Projeto Marreta: em defesa dos quintais com aves e árvores!
Sanhaço-cinzento (Tangara sayaca) |
Se você algum dia chegou a acreditar que aves em liberdade só poderiam ocorrer longe do seu quintal/casa ou se tivessem garrafinhas na varanda com água adocicada (bebedouros artificiais) para atraí-las, está na hora de mudar de ideia!
Se não puder buscar pelas aves em áreas mais reservadas, a observação pode ser tão aprazível e proveitosa como aquelas empreendidas em áreas verdes urbanas como parques, praças, beira de rio e unidades de conservação dentro da cidade. Assim começa a valorização de dentro pra fora!
No quintal do Instituto Mamede, as janelas são, ultimamente, os locais mais habitados por humanos para contemplação da vida radiante que há no quintal. As árvores frutíferas estão cada vez maiores e nesse mesmo compasso mais aves nos visitam e quebram ora o silêncio, ora a monotonia dos ruídos urbanos, tornando a vida mais leve, agradável e bela. Pesquisas científicas provam o quanto estar junto da natureza eleva nosso humor, saúde e, de forma geral, nossa qualidade de vida.
O espaço não é grande, mas abriga um limoeiro (limão-rosa), jabuticabeira, pequizeiro, amoreira, pitangueira, coqueiro, primavera, goiabeira, mamoeiros, bananeiras, galhos de laranjeira lançados pela árvore da residência ao lado, e outras que ainda estão no porte de plântula. Primariamente, todas desempenham a função de poleiro, abrigo, depois se percebe que algumas se destacam também na oferta de alimento às aves.
Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus) |
Na goiabeira costumam aparecer as espécies: sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris), sabiá-poca (Turdus amaurochalinus), sanhaço-cinzento (Tangara sayaca), sanhaço-do-coqueiro (Tangara palmarum), bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), periquito-do-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri), periquitão-maracanã (Aratinga leucophthalma), maracanã-pequena (Diopsittaca nobilis), vivi (Euphonia chlorotica), pitiguari (Cyclarhis gujanensis), cambacica (Coereba flaveola), joão-de-barro (Furnarius rufus) que revira as goiabas caídas no chão em busca de insetos e minhocas, pica-pau-carijó (Colaptes melanochloros), rolinha-caldo-de-feijão (Columbina talpacoti), rolinha-picui (Columbina picui) e a choca-barrada (Thamnophilus doliatus) que, embora essencialmente insetívora, complementa a dieta com outros petiscos, por exemplo, frutos.
Filhote e adulto de sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris). |
Jovem de guaracava-grande (Elaenia spectabilis). |
Na natureza é assim, as regras nem sempre são rígidas demais, afinal tudo é dinâmico, cíclico e de complexidade quase indescritível.
Outro dia, tivemos a feliz surpresa de recebermos a visita de seis araras-canindés (Ara ararauna) que resolveram interromper o percurso de sempre a fim de fazerem uma parada para o lanche na goiabeira. Digo surpresa porque geralmente são vistas apenas voando por cima do Instituto em seus deslocamentos aéreos.
E os dias passam carregados de vida. O sabiá-poca, embora tímido e não permitindo muitas fotos, desafia comer uma outra goiaba enquanto passa despercebido pelos sabiás-laranjeiras e bem-te-vis. Mas ao ser descoberto, o jeito é se refugiar no limoeiro e buscar pelas minhocas no solo que nos ajudam na compostagem dos resíduos orgânicos.
E tem a guaracava-grande (Elaenia spectabilis), visitante de temporada, que alimenta o filhote, já grande, com pedacinhos de goiaba. Agora, momento tenso para as aves é quando o quiri-quiri (Falco sparverius) resolve aterrissar na goiabeira: é pio pra todo lado, seguido de silêncio aflito e prolongado!
Outro dia, tivemos a feliz surpresa de recebermos a visita de seis araras-canindés (Ara ararauna) que resolveram interromper o percurso de sempre a fim de fazerem uma parada para o lanche na goiabeira. Digo surpresa porque geralmente são vistas apenas voando por cima do Instituto em seus deslocamentos aéreos.
E os dias passam carregados de vida. O sabiá-poca, embora tímido e não permitindo muitas fotos, desafia comer uma outra goiaba enquanto passa despercebido pelos sabiás-laranjeiras e bem-te-vis. Mas ao ser descoberto, o jeito é se refugiar no limoeiro e buscar pelas minhocas no solo que nos ajudam na compostagem dos resíduos orgânicos.
E tem a guaracava-grande (Elaenia spectabilis), visitante de temporada, que alimenta o filhote, já grande, com pedacinhos de goiaba. Agora, momento tenso para as aves é quando o quiri-quiri (Falco sparverius) resolve aterrissar na goiabeira: é pio pra todo lado, seguido de silêncio aflito e prolongado!
Macho de choca-barrada (Thamnophilus doliatus). |
À época dos mamões maduros, mais uma vez a choca-barrada foge à dieta exclusiva e arrisca bicadas no mamão já rompido pelos sanhaços. Nesse período, os sabiás-do-campo também aparecem e os sanhaços e saíras-amarelas fazem malabarismos gorjeantes em torno dos frutos.
Cambacica (Coereba flaveola). |
Filhote de canário-da-terra (Sicalis flaveola) sendo alimentado pelo adulto. |
Nas cítricas, limoeiro e laranjeira, além de alguns dos citados, são vistos canários-da-terra (Sicalis flaveola), verão (Pyrocephalus rubinus), primavera (Xolmis cinereus), ferreirinho-relógio (Todirostrum cinereum) e siriri (Tyrannus melancholicus).
A embaúba cresceu e agora oferece alimento às graciosas saíras-beija-flor (Cyanerpes cyaneus) - outra surpresa! -, sanhaços, guaracavas e até para pica-pau-verde-barrado. A amoreira também já nos presenteou com visitas de maria-é-dia (Elaenia flavogaster), peitica (Empidonomus varius), peitica-de-chapéu-preto (Griseotyrannus aurantioatrocristatus), até do picapauzinho-escamado (Picumnus albosquamatus)!
As herbáceo-subarbustivas com flores são visitadas e, veementemente, disputadas por beija-flores-tesoura (Eupetomena macroura) e besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus). E, para que esses pequenos gostem de visitar regularmente seu jardim, prefira as plantas que produzam flores de cores vibrantes e sejam anatomicamente tubulosas como, por exemplo, as dos gêneros Ruellia, Russelia, Heliconia, e tantas outras plantas, cujas flores apresentam formato adequado ao tipo de bico dessas aves e guardam a recompensa (néctar) lá no fundo do aparato floral. A combinação dessas características estruturais: tamanho e forma de bico junto com formato e coloração da flor representa uma incrível estratégia desenvolvida pelas plantas para garantir a reprodução e a continuidade da espécie, através da polinização. Concomitantemente, constitui uma boa maneira desenvolvida pela natureza para harmonizar as interações e mostrar que a reciprocidade de benefícios (neste caso, mutualismo), de fato é vantajosa.
Macho de besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus). |
Sabiá-do-campo (Mimus saturninus). |
E o interessante é que quando se começa a observar as aves, logo a árvore/planta onde a ave pousa e com a qual interage nos desperta atenção e adquire um outro significado na composição da paisagem. A ressignificação da paisagem a partir das aves.
Olhando para a árvore, o próximo passo é perceber, quase automaticamente, que outros animais dela dependem e a visitam, como formigas, borboletas, besouros, libélulas, lagartos e por aí vai. Ao direcionar o olhar para o solo, embaixo da árvore, nota-se a riqueza de fungos, de diferentes formas, tamanhos, texturas e cores, que ajudam na decomposição de matéria orgânica e consequentemente na adubação da terra. Ou seja, desencadeia-se um processo de observação naturalística e sistêmica e logo se conclui que a vida ou a natureza não consiste de um único elemento, não é estática, isolada ou individualizada, e ainda que um de seus elementos naturais nos chame mais atenção – como as aves neste contexto – quando se passa a observá-lo mais atentamente, percebe-se que existe uma infinidade de conexões que o sustentam e formam uma rede integrada de componentes que interagem entre si constantemente e concorrem para a estabilidade ambiental e integridade de vida.
Indivíduos de periquito-do-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri). |
As aves, então, desenvolvem um tipo de dependência espontânea do quintal e não obrigatória, ou seja, aparecem, cantam e o embelezam quando se sentem motivadas. Acho mesmo que a relação das aves com as árvores tem muito mais que dependência alimentar e abrigo, tem a ver com cumplicidade!
Sejamos cúmplices da natureza!
Filhote de rolinha-caldo-de-feijão (Columbina talpacoti). |
Daí é procurar pelas aves sem precisar sair de casa e, por vezes, sem a necessidade de recorrer a equipamentos ou instrumentos sofisticados de aproximação. Prove: é bom, é saudável, é revigorante!
Sabiá-poca (Turdus amaurochalinus). |
Já dizia Rubem Alves: “Viver não é o bastante. É preciso que haja beleza. Uma gota de orvalho não me faz viver ou morrer, mas sua magia me enche de gratidão e penso que valeu a pena o universo ter sido criado por causa daquele momento fugaz”. E o poeta passarinho complementa:
"Para compor um tratado sobre passarinhos
É preciso por primeiro que haja um rio com árvores e palmeiras nas margens.
E dentro dos quintais das casas que haja pelo menos goiabeiras.
E que haja por perto brejos e iguarias de brejos.
É preciso que haja insetos para os passarinhos.
Insetos de pau sobretudo que são mais palatáveis.
A presença de libélulas seria uma boa.
O azul é muito importante na vida dos passarinhos.
Porque os passarinhos precisam antes de belos ser eternos.
Eternos que nem uma fuga de Bach". (Manoel de Barros)
Faça do seu quintal um elemento importante para o Conceito Pleno de Lar, afinal é pra lá que a gente sempre volta (ou deseja voltar)!
Texto e fotos: Maristela Benites e Simone Mamede. Local dos Registros Fotográficos: Quintal do Instituto Mamede, Campo Grande/MS.
Obs. Neste texto estão listadas mais de 30 espécies de aves nativas que visitam ou já visitaram o quintal do Instituto Mamede e todas as fotos apresentadas foram feitas in loco. As aves que apenas sobrevoam o Instituto em seus deslocamentos ou executam voo do tipo pairado sobre ele como o gavião-peneira, gavião-carijó não foram aqui consideradas. Ficarão para um outro relato.
Para conferir a lista de espécies que já registramos consulte http://taxeus.com.br/lista/4842
Para conferir a lista de espécies que já registramos consulte http://taxeus.com.br/lista/4842
Periquitão-maracanã (Aratinga leucophthalma). E quando eles, literalmente, escolhem seu quintal como moradia a satisfação não pode ser outra: é definitivamente PLENA! |
Bela reportagem!!
ResponderExcluirPrezado Ari, obrigada pelo comentário, pela companhia nas passarinhadas do COACGR e por capturar momentos tão especiais ofertados pela natureza. Ah! Se todas as pessoas soubessem o quanto esses seres, julgados desimportantes para muitos, nos fazem tão bem!!! Seríamos mais felizes, solidários, honestos e ativistas!!
ExcluirAbraço,
Maris
Muito legal e estimulante,dá vontade de olhar pela janela e ver o que passa voando, rs...
ResponderExcluirTietta Pivatto
Bonito - MS
Olá Tietta!
ExcluirÉ né, sensação muito boa vê-los tão somente livres.
Obrigada por deixar seu comentário!
Bom te ver aqui!
Abraço,
Maris
Parabéns ao Instituto Mamede por tão simples e nobre iniciativa!
ResponderExcluirA M E I !!!!
ANA MARIA PERES CABRAL
Obrigada Ana Maria por seus comentários! Mais árvores = mais aves e menos gaiolas!!
ResponderExcluirAbraços,
Maristela
Da próxima vez que tiram estas fotos do nosso quintal, fala com a gente antes de entrar, a gente serve um cafezinho gostoso !!! ;-)
ResponderExcluirOlá anelverde.goval que bacana! Você tem um quintal parecido com o nosso?! Aqui no Instituto em Campo Grande/MS (de onde foram feitas todas as imagens postadas neste texto) não temos cafezinho, mas podemos servir um delicioso chá de erva-cidreira também produzido no quintal! Será bem-vindo! Quanto mais quintais arborizados tivermos e servirmos de exemplo a outrem, asseguraremos a conservação da biodiversidade urbana e qualidade de vida para as atuais e futuras gerações! Um abraço!
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