Expedição Biofronteira do Pantanal


 

Período de 02 a 14 de Fevereiro de 2008. Trecho: Campo Grande – Jardim – Pantanal do Apa – Pantanal de Porto Murtinho e Pantanal do Nabileque


Nossa saída de Campo Grande-MS teve um atraso de aproximadamente duas horas, motivo: muita bagagem (malas, alimentação, sacos de dormir, cadeiras dobráveis, etc. e mais 5 pessoas!), para pouco espaço. Põe, tira, amassa, aperta, deixa, leva... Tivemos que fazer uma seleção das prioridades e, dentre elas, o que levamos: roupas, itens para alimentação, coletes salva-vidas, máquinas fotográficas, repelentes e, é claro, o kit de tereré.
Nossa equipe composta por duas pesquisadoras de aves (Andréa Chin Sendoda e Maristela Benites), uma mastozoóloga (Simone Mamede), um francês, artista plástico (Bruno Plumey) e uma estudante de Ciências biológicas da Universidade Federal de Goiás (Paola da Mata).
Todos com um objetivo em comum: registrar as espécies da biodiversidade do baixo, médio e alto Pantanal, assim como avaliar as condições das mesmas e a relação do homem com o Pantanal. Nesta primeira etapa as atividades foram realizadas no baixo Pantanal, município de Porto Murtinho: Ingazeira, Apa, Barranco Branco e Nabileque, região de fronteira do Brasil com o Paraguai. Também foram realizadas pesquisas no município de Jardim - MS, local onde contribuímos com pesquisas e levantamentos sobre a mastofauna da RPPN Buraco das Araras.



Diário de bordo da Andrea Sendoda:
01 de fevereiro - sexta-feira
5h30. Toca pela última vez o meu despertador.  Levantar ou não? Adiar o último transecto ou não? Dormir mais um pouco ou não? Eis a questão. Não sabia se era mais necessário descansar para a viagem para Campo Grande ou terminar a coleta de dados de vez. Cinco minutos depois, o meu ritmo frenético falou mais alto e decidi finalmente levantar. Transecto 7. Como eu podia ter deixado o transecto mais chato por último? Enfim, vamos enfrentar o capim-flecha interminável e quase intransponível.
                Ainda bem que eu sou teimosa e fui trabalhar pois a recompensa veio depois. Um belo nascer do sol, primeiramente. Mas lógico, antes teve que ter um suspense: pegamos uma neblina muito forte e quase infinita, levando-me a crer que o dia estaria quase perdido. Mas faltando somente 2km para chegar ao local, saímos daquela “nuvem” e fomos recebidos com um nascer do sol espetacular. Para completar, conseguimos ver no transecto a suindara a 4m da gente, a perdiz, o joão-bobo, e 2 emas! Isso levou a um atraso da nossa saída a Campo Grande. Fechamos a viagem de coleta de dados do PNE com uma bela improvisação do Bruno. Ele fez batata com um molho “x” e de sobremesa teve salada de frutas.
                Decidimos arriscar ir a Campo Grande passando por Costa Rica, pois já fazia 2 dias de sol e tínhamos certeza que o perigo de atolar o carro havia sido descartado. Cinco quilômetros depois de ter deixado o PNE e ter finalmente começado a tão esperada viagem para o Pantanal, atolamos num buraco mega profundo! Metade do carro ficou afogado na poça, incluindo o escapamento, isso quer dizer que eu não podia deixar o carro morrer de jeito nenhum! Muita tensão. Bruno e Paola tentaram, em vão, colocar umas folhas embaixo do pneu. Sem contar com a lamaceira que eles se sujaram e molharam. No desespero ligamos para o Parque pedindo socorro. Um minuto depois chegou um carro e 2 caminhões! Socorro é que não faltou! O carro atrás passou pela soja para evitar o buraco. Muito mais esperto que a gente, lógico. Depois de desatolarmos, gastamos mais ou menos meia hora para secar o carro e arrumar todas as coisas novamente. Pedi ao Bruno que checasse a profundidade e foi simplesmente assustador. O carro atolou num buraco acima da altura do joelho. Um metro a direita do buraco, a água batia no calcanhar. Lei de Murph. Por que raios fui escolher o meio da poça? Tinha 2/3 de chance de acertar e mesmo assim consegui escolher o lado ruim.
                Bem, após esse episodio, a cautela foi redobrada. Nas 10 grandes poças seguintes, eu fazia o Bruno descer do carro e checar a profundidade delas. Todas muito rasas, a água só enganava. 15 km depois, tinha uma poça bem grande e me lembrei do carro que tinha desviado pela soja. Perguntei a opinião da Paola e Bruno o que eles achavam e eles concordaram. Comecei a entrar na soja e não mais que de repente eu estava mais uma vez atolada num brejo (swamp) dentro da soja!!! Atolar 2 vezes no mesmo dia e 2 vezes dentro da água é muita Lei de Murph! Na primeira poça o lado direito do carro inundou e foi o escapamento que ficou debaixo d’água. No segundo atolamento – não podia  ser diferente – todo o lado esquerdo do Palio ficou molhado e dessa vez foi o motor que ficou afogado na poça! Isso que é serviço completo, eu diria! Um trator que estava arrumando a estrada, conseguiu tirar a gente da soja. Perdemos mais um tempão para arrumar o carro novamente. A partir daí, o Bruno dirigiu até chegarmos em Chapadão do Sul. Lá, eu peguei o carro de novo e seguimos direto para Campo Grande. Chegamos lá, meio tarde. A Simone e Maristela nos esperavam. A casa delas é uma graça. Tomamos banho e fomos jantar numa feira oriental da cidade. Uma delicia!!
02 de fevereiro – Sábado
Logo cedo fomos ao supermercado fazer as compras da nossa viagem. A Paola e o Bruno ficaram tirando fotos nos orelhões engraçados que tem lá. Eles tem formas de bichos, como Arara, Garça e Onça. Depois fomos todos ao Shopping almoçar. Em seguida, fomos na sorveteria Delícias do Cerrado. Que delícia mesmo. Tomei quase todos os sabores. A tarde usei a Internet. Na janta, o Bruno fez uma maionese da hora (impossível de fazer!) e fomos, junto com a irmã da Simone para uma festa de Carnaval no clube Estoril. Bebemos a pior caipirinha da minha vida!! Rsrs. Dançamos um pouco e depois algo aconteceu que todos que estava lá dentro começaram a tossir sem parar. Foi horrível a tentação. Acho que alguém jogou algo lá dentro e fez todos passarem mal. Fiquei meio assustada. Depois de nos acalmarmos, fomos embora pra casa. No dia seguinte, começaríamos literalmente a nossa viagem ao Pantanal.
03 de fevereiro – Domingo
Acordamos meio atrasados. No meio do caminho, paramos na cidade Jardim, onde os pais da Maris moram. Eles são uns fofos, nos receberam super bem. Prepararam um almoço caprichado pra gente, com direito à sopa paraguaia. Uma delicia! Depois de nos despedirmos, fomos para o Buraco das Araras. O lugar é meio mágico. Fantástico. Era a primeira vez que eu via uma arara-vermelha! Lindas. Chegamos bem perto e deu pra ficar muito tempo as apreciando. Antes disso, também vi uma Glaucidium brasilianum (caburé), pela primeira vez. Conhecemos toda a equipe / família que trabalha no Buraco das Araras e combinamos o dia em que voltaríamos com mais calma para um pernoite. Seguimos nossa viagem em direção a Porto Murtinho. Chegando lá, fomos hospedados no hotel do Exército. Mais uma vez fomos muito bem recebidos. A noite saímos para uma volta na cidade e tomamos sorvete.
04 de fevereiro – Segunda feira
Neste dia pegamos a estrada sentido o Destacamento Ingazeira. Vimos muitos bichos no meio do caminho, por isso atrasamos um pouco. Rendeu muito. O único e enorme prejuízo que tivemos, foi a perda do meu binóculo. Pois é, o Bruno deixou no teto do carro e caiu no meio da estrada... Quando nos lembramos do binóculo e voltamos para procurá-lo, encontramos um carro na outra direção da estrada. Como não achamos o binóculo na estrada, tivemos certeza que o tal carro tinha o encontrado e roubado. Enfim, estávamos desfalcados com um binóculo a menos. Nos perdemos no caminho pra Ingazeira e fomos parar na propriedade do ex-governador do estado de MS. Tinha até jatinho!! Depois acertamos o caminho e chegamos no local. O Sargento nos recebeu muito bem. Já aproveitamos a tarde para andar de barco. Seguimos o rio sentido a Cachoeira. Deu pra ver muitos bichos também.
05 de fevereiro – Terca feira
Acordamos cedinho para pegar o Barco. Seguimos em direção ao Destacamento do APA. Lá é muito bonito. Andamos nos arredores, mas tinha muito mosquito. A Simone conseguiu boas fotos do lugar. Tiramos uma foto com a equipe toda e o pessoal do exército que mora lá. Depois, fomos para a Ilha da República, onde tem outro destacamento. Andamos um pouco para procurar cobras e tatus (sim, para mostrar para o Bruno), mas nada. O sargento ficou nos contando histórias do exército e do povo do Paraguai. Eles disseram que do outro lado do rio, não há leis ambientais e que eles caçam os bichos à vontade. Assustador. Pior ainda, foi ouvir que os próprios homens do exército de lá também caçam tatu, veado, etc para poderem se alimentar, pois lá não há eletricidade. Realidade triste e dura, tanto para os humanos quanto para os bichos. Voltamos para o Destacamento Ingazeira e arrumamos as nossas coisas. Retornamos a Porto Murtinho para mais um pernoite. No dia seguinte seguiríamos adiante para o Destacamento de Barranco Branco.
06 de fevereiro – Quarta feira
Acordamos 04h00. Ninguém merece! Fiz tudo muuuito devagar: me trocar, tomar café, carregar o carro, dirigir. Finalmente conseguimos respeitar o horário militar e estávamos desde às 05h50 prontos. Muito bem!
Sabe que horas saímos? 8h00. Lei de Murph. Barco quebrado. Calma, ainda não acabou. Lei de Murph, de novo. Mas isso é uma longa historia. Vamos lá. Uns 5km depois de ter finalmente partido, o barco diminuiu de velocidade para que a Simone pegasse a mala do Bruno. Nessa, entrou muita água no barco devido ao excesso de peso. Para arrumar as coisas molhadas, o piloto do barco parou na margem do rio. Quanto tudo estava pronto novamente, o barco não ligava mais. Fim da historia: esperamos mais de 2 horas por socorro e no final das contas, tivemos que trocar de barco de novo. Só que este outro barco não tinha teto, imagine só que cansativo que foi viajar mais de 3 horas sob um sol escaldante do Pantanal. No mesmo grupo, veio o soldado Ericsson, sua esposa Elisete e a bebe de 1,5 mês – a Taiane. Após 05h30 da nossa partida, chegamos ao Destacamento Barranco Branco. O Sargento Luiz André nos recebeu super bem, mas ficamos sabendo que ele foi pego de surpresa, pois ele não sabia da nossa chegada e ninguém o tinha avisado. Fomos recebidos com um delicioso almoço que a Beatriz (esposa do Cabo Brito) preparou pra gente no improviso. Descansamos e no fim da tarde a Maris e a Simone foram para o mato, enquanto eu, Bruno e Paola fomos na casa vizinha do Seu Varlei par conversarmos sobre os cavalos. Conhecemos sua casa e família e apresentamos o nosso projeto. Combinamos de andar a cavalo no sábado. Seu Varley e o filho Rodrigo voltaram a trabalhar tentando colocar o gado no barco, como já haviam feito o dia todo! Que pique! Na volta pegamos um enxame de pernilongos e como estava muito escuro acabei atolando um pé na lama!! Rsrs. Agradecemos a companhia do Cabo Brito, a Beatriz e a Thais por terem nos acompanhado ate o Seu Varley.
Mesmo com os ventiladores no quarto, ainda assim estava muuuito quente.
07 de fevereiro – Quinta feira
06h15. Acordei naturalmente com o dia clareando. Café da manha: foi bem marcante, pois havia muitos pernilongos por todos os lados. Quase um enxame. A partir daí, já tive uma idéia de como seria o meu dia.
Embarcamos com o Cabo Brito e 2 minutos após, fomos presenteados com as ariranhas. Muito fofas! No mesmo local havia muitos martins-pescadores (Ceryle torquata) e seus buracos com ninhos. Encontramos também o martim-pescador-verde (Chloroceryle amazona).  Navegamos pelo rio Paraguai e no meio dele há um simpático hotel chamado Pousada Sonho do Nabilec. Conheci o Arnaldo e sua esposa. O hotel pertenceu à dona Conceição. Estava vazio pois é baixa temporada no momento. Em menos de 10 min de muito sol e pernilongo, o resultado do levantamento de aves foi: rapazinho-do-chaco (Nystalus striatipectus), andorinha-do-rio (Tachycineta albiventer) e pica-pau-chorão (Picoides mixtus). Isso que é rendimento. Seguimos viagem em direção à boca do rio Aquidaban, cuja classificação paisagística é Corixão. Às 10h25 encontramos o rio Nabileque propriamente dito. Pudemos ver Biguatinga, Gavião-belo, Casaco-de-couro e Gavião-preto. As 11h chegamos ao Corixo Passo d’água, onde tive a oportunidade de ver a Águia-pescadora. Voltamos ao Rio Aquidaban onde vimos uma capivara deitada. Após muitas fotos tiradas por todos, a capivara se assustou com a nossa aproximação e resolvemos “capivarar”: descemos do barco para um descanso. Para nossa surpresa, o que ia ser somente um descanso virou um palco: naquela mesma árvore havia uma iguana e um graveteiro (Phacelodomus ruber). Até cheguei a pensar que era o P. striaticollis, uma espécie na lista de procurados no guia de aves do Paraguai e que se oferece recompensa aos que encontrá-lo. Estávamos com sorte mas nem tanto assim! O Bruno, arteiro como sempre, subiu em cima da arvore para tentar tirar uma foto da iguana e, lógico, acabou espantando o bicho de forma que o lagarto saltou da árvore direto para ao rio, passando por um fio do barco! Aquela barrigada da iguana ate doeu em mim! Minutos depois, a Maristela, com o seu olhar impecável, achou pra gente o pintassilgo (Carduelis magellanica). Na volta para o destacamento, pudemos ver os tímidos e medrosos Japacanins (Donacobius atricapillus), que estavam cantando muito mas ficavam escondidos nos aguapés.Tanto esforço e tempo valeram a pena, pois no mesmo local, havia outra iguana com um verde super brilhante. Lindo mesmo.
Para finalizar o passeio de barco, encontramos 02 saracuras grandes (~ 40-50cm) Aramides ypecaha. O sol estava judiando da gente e fizemos um pitstop novamente na Pousada Sonho do Nabilec. Quando retornamos, eu estava acabada. Descansei um pouco no quarto do Bruno e a Simone nos chamou para falar com o Seu Varley, que me esperava lá fora. Fizemos mudança de planos e passamos o resto da tarde tomando tereré e ouvindo as historias do Seu Varley, que incluíam desde sua família até a colonização desse pedaço da margem do Rio Paraguai. Na janta a Maris preparou um feijão delicioso.
08 de fevereiro – Sexta feira
De novo acordei antes do despertador tocar: 5h30! Motivo: calor, muito calor. No barco, fomos eu, Maris, Simone, Bruno e Cabo Wilson, Seu Varley e o filho  (Rodrigo). A Paola não foi, pois acordou com muitas dores nas costas. De cara a Simone conseguiu tirar boas fotos dos bichos que, nas tentativas anteriores, foram super difíceis: japacanim (Donacobius atricapillus), gavião-belo (Busarellus nigricollis), Carão (Aramus guarauna), Chloroceryle americana, anu-coroca (Crotophaga major), cardeal (Paroaria coronata), maracanã-pequena (Diopsittaca nobilis), japu (Psarocolius decumanus), choró-boi (Taraba major), encontro (Icterus cayenensis), gavião-preto (Buteogallus urubutinga), Tabuiaiá (Ciconiia maguari), bichoita (Schoeniophylax phryganophila) e paruru-azul (Claravis pretiosa). Tentamos fazer a trilha de 600m para pegar o outro barco mas estava alagado e tivemos que voltar. O plano B foi visitar a outra área da propriedade do Seu Varley. Foi lá que eu vi o Tabuiaiá. Para chegarmos na mata, todos atravessaram uma área alagada, com água até a canela. Todos, menos eu. A madame aqui fez o Bruno me carregar de cavalinho nas costas tanto na ida quanto na volta! Viramos atração, é claro. Imagine que vergonha só se eu tivesse caído! Nem consigo imaginar. Remamos o barco na volta para economizarmos gasolina para tentar ver as ariranhas no dia seguinte. Para completar a manhã maravilhosa, a Paola nos presenteou com um almoço super caprichoso: arroz, feijão, carne, farinha e salada. A surpresa ainda não tinha acabado, pois no meio do almoço, a Beatriz trouxe rocamboles com goiabada pra gente. Espetacular. Eu que não costumo fazer siesta, não tive escolha. Foi bom demais.
Acordei e fui para a sombra do pé  de Ingá escrever. Como rendeu! Hoje bateu um vento norte o dia todo e quase não levei nenhuma picada. Show de bola. Escrevi até o pôr-do-sol.
Thais e Felipe vieram com o cavalo. O Bruno andou um pouco e depois foi a minha vez. O Felipe me ajudou. Tirei varias fotos deles. O doido do Bruno tinha esquecido dos fios da cerca da garagem e passou direto. Só vi o vergão vermelho na barriga dele! Aí chegou a hora dos pernilongos e tudo acabou. Voltei para o alojamento.
09 de fevereiro – Sábado
Acordei e da varanda do destacamento já via o seu Varley arrumando os cavalos pra gente. Nossa, como dá trabalho juntá-los! Como eu era a mais inexperiente com cavalos fui na garupa com o Bruno. O passeio me rendeu muita dor na bunda, pernas e costas. A cada passo do cavalo eu sentia cada osso se movendo. Isso que dá andar sem sela. No fim, em vez de ficar mais tranquila ao deixar outra pessoa guiando o cavalo, a aventura foi ainda maior, pois quase caí do cavalo várias vezes. Isso que dá confiar no Francês. Bem, voltando à parte científica, foi o dia que menos rendeu, na verdade. Não rendeu porque não tinha bichos e sim porque o cavalo demorava para parar e nunca ficava totalmente parado para podermos ver os bichos no binóculo. Como 1 – 3 segundos faz toda a diferença para ver os bichos!! Para piorar, eu estava usando o mosqueteiro para tentar amenizar as picadas de pernilongos no rosto, nem um nem outro: os pernilongos conseguiram entrar na minha tela e ficaram me picando e não consegui identificar nenhuma ave!!
Mas o passeio valeu mesmo assim, pois rendeu boas risadas, fotos lindas e muitas pegadas. Na volta desmontamos do cavalo mas precisei da ajuda do Seu Varley. Mal conseguia andar depois! Fora a cor preta que a calça ficou. As meninas foram para o mato de novo e o Bruno foi se banhar com os cavalos, o Rodrigo e o Felipe. Jogamos conversa fora numa roda de tereré. Pra minha vergonha, eu cochilei sem querer e quando me dei conta, as meninas estavam rindo da minha cara. O seu  Varley ficou com dó de mim e me cedeu uma rede. Lógico que eu aceitei. Acordei com o almoço pronto: teve arroz carreteiro, feijão, farofa e goiabada de sobremesa. Pronto, não prestei de novo. Novamente seu Varley fez a besteira de oferecer a rede para mim e eu mais do que cara-de-pau, aceitei novamente. Ventinho bom. O que era para ser uma siesta foi quase um sono completo. Acordei super assustada quando notei que não havia mais ninguém! Todos me abandonaram lá. Quando voltei ao destacamento, todos riam da minha cara: “nossa, você estava até agora dormindo?” “Tadinha, você estava dormindo tão gostoso que não quisemos te acordar”. Tomei aquele banho e passei a tarde todinha lavando a minha roupa. Logo em seguida, fomos tentar ver as ariranhas novamente. Apesar de não termos obtido muito sucesso, o passeio de barco foi ótimo. O cabo Wilson (Paraguaio) ficou contando as histórias doidas da família dele. Os índios tentaram matar o pai dele porque um padre havia dito que o pai do Wilson tinha matado um dos índios. Sendo que na verdade, o índio morreu por acidente mexendo na fiação elétrica. Wilson teve que ficar trancado dentro de casa sem ir à escola dos 6 aos 8 anos em Porto Murtinho por causa das ameaças. Tenso!
A última janta no destacamento Barranco Branco foi um miojo debaixo de um temporal. Deu pra refrescar bastante. Mas a varanda já estava toda alagada. O Bruno ficou jogando xadrez pela última vez com o Soldado Ericsson.
10 de fevereiro – Domingo
6h00. Último dia em Barranco Branco. Fomos fazer a trilha a pé. Quantos mosquitos!! Dessa vez não tinha gente, cavalos e cachorros para dividir os pernilongos. Ou seja, insuportável. Além de não respeitarem o repelente, luvas, roupas, eles começaram a ignorar também o meu mosquiteiro facial. Matei mais de 6 dentro do meu rosto. Calma, ainda tem mais. Atolei um pé no meio do caminho mas resolvi ser forte e não desistir. 5min depois atolei os 2 pés até o joelho. Só rindo mesmo. Aliás, todos rindo. Depois desse episódio, decidi voltar.
Fizemos as malas, almoçamos miojo e nos despedimos de todos. O Bruno deu a pintura do destacamento para o Cabo Brito e à Beatriz. O cabo Brito deu uma gandola do exército pra ele. Fomos em 2 barcos. Pegamos um pouquinho de chuva no começo mas nada que fosse preocupante. Fiquei com um pouco de frio e deitei no colo do Bruno. Acordei com umas gotas pesadas na cara e quando me levantei vi um vendaval pesado. Em poucos segundos saí da tranquilidade de um cochilo para uma tempestade quase mortal. Logo em seguida, os barcos pararam na margem e todos desceram correndo para o abrigo. Não dava para ver nada de tão forte que estava. Nossa, por pouco mesmo escapamos de um acidente grave. Ouvi dizer que há muitos casos de morte no rio Paraguai quando há grandes temporais. Não dava para acreditar como ainda estávamos vivos. 20min depois, a chuva diminuiu e embarcamos novamente. Tudo molhado!! O resto da viagem foi tranquilo, o único problema foi o frio.
Ao chegarmos em Porto Murtinho, soubemos que não poderíamos nos hospedar no hotel do Exército. Fomos ate os tios da Maristela para uma visita. A recepção foi ótima, eles foram muito gentis com a gente. Tomamos um chá quente com coquito e bolo. Fomos convidados para dormir lá. Aceitamos, claro e jantamos pizzada.
11 de fevereiro – Segunda
Acordamos cedinho na casa da tia da Maris. Aquela correria para arrumar todas as coisas com o intuito de chegarmos pontualmente as 7h na prefeitura. Descobrimos que as nossas roupas não secaram no varal. A noite fez um friozinho e continuou muito úmido e não foi possível secar nada!! A minha sorte é que eu, sem querer, deixei umas coisas dentro do quarto e, como dormi com o ventilador ligado, a toalha, meia e calças secaram. No café da manhã, a tia ­­­­Síria preparou umas tortilhas paraguaias. São deliciosos bolinhos fritos com queijo! Já eram 7h10 quando a Simone recebeu a noticia que o cabo Glaucio já estava esperando a gente na prefeitura e que só seria aberta às 8h00. Que vergonha, o homem já estava lá! Mais um atraso com o povo do exército....   Enfim, agora tínhamos mais um tempinho para nos ajeitarmos e chegarmos “pontualmente” às 8h00.
Arrumamos todo o carro (aquele quebra-cabeça pra variar) e nos despedimos dos tios da Maris. Uns fofos. Pra nossa surpresa (ou não!) o cabo Glaucio já estava na frente da prefeitura esperando por nós. Ou seja, eram 8h05. Fomos conversar com a secretária do meio ambiente – Cristina. O Bruno já estava ficando tenso com os horários dos ônibus de Bonito – Campo Grande – São Paulo. Realmente o tempo estava apertado. No meio da viagem, vimos na estrada (aliás, os olhos preciosos de dona Maris!) um quati lindo na embaúba!! Valeu a pena. Tivemos que acelerar um pouco e deixar de fazer tantas paradas pra observar bichos pois o tempo estava apertado para chegarmos em Bonito. Chegando lá, a primeira coisa que fizemos foi comprar a passagem de ônibus para o Bruno. Pagamos só R$8 para entrarmos no Balneário Municipal de Bonito. Almoçamos por lá mesmo. Pedi um PF com costela de Pacu. Uma delícia. O Bruno ficou selecionando as fotos no laptop da Simone e logo em seguida foi nadar no rio Formoso com as piraputangas. Show de bola! Não durou nem 5 minutos e ele se despediu das meninas. Fui levá-lo até o trevo para o ônibus. Ele ajeitou as últimas coisas e o ônibus chegou. A despedida foi muito rápida. Melhor assim. Voltei para o Balneário e entrei no rio para nadar com os peixes. Eu e a Simone vimos macaco-prego, martim-pescador e a pipira-vermelha (Ramphocelus carbo). Como rendeu esse “transecto” na água! Mas os pernilongos novamente judiaram da gente e saímos logo em seguida. Nos acomodamos no hotel Calliandra por R$30 a diária. Antes de jantarmos, eu e a Paola demos uma de turista total e fomos fazer “compras”. Gastei mais grana em Bonito em apenas um dia do que na viagem inteira! Ainda bem que foi só um dia mesmo. Rsrs. Comemos um lanche no Vício da Gula.
12 de fevereiro – Terca feira
Que preguiça! Acordamos 8h30. Fazia um tempão que eu não sabia o que era dormir mais de oito horas numa noite. Coisa linda. Tomamos aquele café da manhã reforçado. No caminho para a Gruta Lago Azul, as meninas viram dois veados catingueiros. Não consegui nem ver a sombra dos bichos! Uma pena. Chegando lá, descobrimos que era necessário ter comprado o voucher para o passeio. Lá, vai nós voltarmos para a cidade (só 22 km) comprar correndo e voltar correndo. Mas todo o esforço valeu a pena pois a gruta é linda e a cor do lago dentro da caverna é indescritível. Tudo de bom. Eu e Paola não acreditávamos no que estávamos vendo. Depois que acabamos o passeio, voltamos correndo para o hotel fazer o check-out. Almoçamos no Vício da Gula, de novo. À tarde não havia mais nenhum passeio que pudesse ser feito. Inacreditável. Tudo era muito caro, longe e/ou não tinha mais vagas! Decidimos voltar ao Balneário e obtivemos sucesso nessa missão. Nadei várias vezes com as piraputangas. O dia estava lindo. Água cristalina. Depois fomos para Jardim visitar os pais da Maris, de novo. Era aniversario do irmão dela. Ficamos um pouco até anoitecer e partimos novamente em direção ao Buraco das Araras. Chegamos meio tarde, mas ainda tivemos pique para mais uma trilha noturna em busca de bichos. Não rendeu muito mas foi legal mesmo assim. Eu e Paola voltamos mais cedo para dormir que Simone e Maristela.
13 de fevereiro – Quarta feira
Acordamos cedo e fomos fazer a trilha em direção à porteira do Buraco das Araras. Na volta, tomamos café da manhã na casa deles. Na nossa janela, tinha uma Arara-canindé linda, mas que era de cativeiro. Surpreendentemente, chegou um Araçari no topo de uma árvore bem em frente da janela da cozinha.  Quando já estávamos todos felizes de ver essa cena, chegaram mais uns 10 Araçaris e pousaram todos na mesma árvore. Sensacional. A Simone conseguiu tirar fotos ótimas. Fomos fazer a trilha em volta do Buraco das Araras. Dessa vez, deu pra chegar ainda mais perto das Araras-vermelhas. Emocionante. Depois, fomos para um pasto abandonado no terreno ao lado e por incrível que pareça, vimos muitos bichos, dentre eles: birro (Melanerpes candidus), gralha-picaça (Cyanocorax chrysops), nei-nei (Megarynchus pitangua, pica-pau-anão-escamado (Picumnus albosquamatus), Trogon curucui, Arapaçu (Dendrocolaptes platyrostris), pica-pau-verde-barrado (Colaptes melanochloros) e gralha-do-pantanal (Cyanocorax cyanomelas). No fim da tarde, o seo Modesto nos levou até o Buraco novamente para nos mostrar uma vocalização amedrontadora e parecida com voz humana. Gravamos e desconfiamos ser uma coruja. Saímos um pouco tarde e a Simone dirigiu todo o caminho para Campo Grande. Cheguei acabada. Foi umas das melhores viagens da minha vida, com certeza! Planos não faltam. Quem sabe em setembro deste ano não voltamos para o Pantanal para desfrutá-lo no fim da estação seca e explorar também novos locais?!

DIÁRIO DE BORDO DA PAOLA DA MATA



Sexta,01 de fevereiro de 2008



Acordei mais cedo do que o costume. Estava muito empolgada, havia recebido um convite que mal acreditava. Andréa me convidou para conhecer o Pantanal, PAN-TA-NAL! Juntamente com Bruno, Simone e Maristela. Realmente eu não acreditava nesse convite, era muito bom pra ser verdade. Tenho muita vontade de conhecer esse bioma, não era só o Pantanal que eu conheceria, de quebra Campo Grande, Buraco das Araras e Bonito. Não sei nem dizer qual eu tinha mais vontade de conhecer! E ainda iria com pessoas maravilhosas, além de super legais, super profissionais. Eu uma recém chegada estagiaria do Parque Nacional das Emas, quando poderia imaginar que iria conhecer tantas pessoas legais e que iria ter uma oportunidade como essa? Realmente era inacreditável. Tratei, logo que acordei, de cuidar das minhas obrigações no Parque.

O dia estava bem nublado, mas decerto era minha empolgação, acreditava que não ia durar muito. Demorou um pouco mas o Sol logo foi se expressando mais forte, e na hora do almoço já estava bem quente. Andréa e Bruno chegaram do campo na hora do almoço, eu já havia preparado meu macarrão instantâneo quando eles me convidaram para almoçar. Almoçamos juntos e fomos colocar as bagagens no carro. Estávamos os três muito empolgados, pois nenhum de nós conhecia os lugares que íamos visitar, só Simone e Maristela. Saímos do Parque mais ou menos às 13h horário de Brasília. Andamos cerca de 5km e advinha? Atolamos! Atolamos e bem atolados, viu. Aparentemente era um poça inofensiva de lama, nenhum de nós dava nada para ela. Porém o buraco era bem profundo, não podia acreditar. Foi bem do lado do passageiro que o carro afundou e eu fiquei na expectativa vai subir, vai sair! Não é possível! E nada, o carro não conseguia sair do buraco. Andréa que estava dirigindo ficou bastante nervosa! Destampou a conversar inglês com Bruno, que teve um importante papel naquele momento. Não sabíamos o que fazer e ele tomou o controle da situação explicando a Andréa como agir.

Ao sair do carro entraram litros de água para dentro, eu tive que sair pela outra janela em meio a muitas bagagens. Bruno explicava a Andréa como agir e nós enfiávamos o pé na lama tentado desatolar o carro. A nossa sorte foi que logo apareceu um carro pequeno que parou para nos ajudar e em seguida duas carretas. Uma delas nos guinchou. Muito prestativos. Foram embora e ficamos nós retirando água do carro, era muita água, ou melhor, lama! Muitas coisas estavam encharcadas. Depois de uma meia hora seguimos viagem.

A estrada estava muito ruim, estrada de chão e havia chovendo muito no últimos dias, ou seja, a estrada estava péssima. Andamos uns 10km e avistamos muitos buracos desta vez esses se destacavam dos demais, e como estávamos traumatizados da “atolada” decidimos todos, em sairmos pela soja. Putz! Mais uma vez atolamos! Aí sim que eu não acreditava, mais uma vez não! A única reação que eu tinha era rir! Tenho crise de riso. Tentava me controlar, mas na primeira vez foi mais difícil. Eu ria e fotografava. Tinha que fotografar, se eu só contasse seria meio difícil de acreditarem. O raio pode sim cair duas vezes no mesmo lugar. Era isso que eu pensava. Dessa vez atolamos do lado do motorista. Lá na frente avistei uma patrola que conserva a estrada, fui lá e pedi socorro. Mais uma vez fomos resgatados e pra nossa sorte o socorro não demorou nada. Era demais, atolarmos duas vezes! Mas isso não foi nada, apenas mais uma nova experiência ainda mais pra mim e Andréa que nunca havíamos atolado. Tudo isso só iria enriquecer nossa viagem. Seguimos nosso caminho rumo a Campo Grande, lá nos aguardavam Simone e Maristela. Chegamos por volta das 21hs horário de Brasília. Tirando as atoladas, a viagem foi tranquila e cheia de descobertas, pois era um lugar novo para nós. Chegamos em Campo Grande pela entrada errada e tivemos de nos virar para achar o caminho. Simone ficava no celular nos dando as coordenadas, mas mesmo assim era difícil. A nossa sorte foi que mais uma vez alguém nos auxiliou. Um homem gentilmente nos encaminhou até a metade do caminho e nos explicou o resto do trajeto. No final tudo deu certo, se não deu é porque não chegou no final, rs. Fomos muito bem recebidos por Simone e Maristela, bem cansados tomamos banho e fomos comer fora, para conhecer a Capital do Mato Grosso do Sul. Conhecemos uma feira cultural onde jantamos. Retornamos para casa e dormimos. Assim terminou essa sexta-feira bem movimentada.


Domingo, 03 de fevereiro de 2008

O tão esperado dia da partida rumo ao Pantanal. Confesso que admirei a disposição de Andréa e Bruno, eles praticamente não dormiram porque foram aproveitar o carnaval. O carro ficou super lotado, bagagens de cinco pessoas: roupas, comidas e acessórios, para aproximadamente uma semana. Apesar do aperto, partimos todos muito felizes. Andréa, Bruno e eu demos altas cochiladas. A primeira parada foi em Sidrolândia onde tomamos café da manhã. Seguimos rumo a Jardim, cidade natal de Maristela e onde moram seus pais. Cidadezinha muito simpática, cheia de verde e muito bonita. Foi uma emoção muito grande conhecer os pais de Maristela. A mãe é a simpatia em pessoa, o pai me deu a impressão de um guerreiro. Eles representam muito bem as pessoas brasileiras humildes que fazem de cada dia uma luta, uma conquista, que adoram o fato de estarem vivos e agradecem a Deus cada dia vivido. Pessoas que só tem a acrescentar. Na casa deles almoçamos, uma delicia de almoço onde conhecemos a sopa paraguaia ou, segundo Bruno, sopa guarani, rs. Uma espécie de torta salgada e assada de  milho, cebola e queijo, muito saborosa. De lá seguimos para uma parada rápida no Buraco das Araras. Eu estava me sentindo no próprio “globo repórter”, pois há anos atrás assisti uma reportagem desse lugar e nunca me esqueci, sempre sonhei em conhece-lo! Não é possível imaginar a sensação que sentiria ao conhecer pessoalmente esse local. Nos apresentamos na recepção como pesquisadores, apresentação feita por Simone que é conhecida da família. Fomos muitíssimo bem recebidos por toda a equipe da RPPN. Meu Deus do céu! Meus olhos não podiam acreditar no que viam, desde o momento que estacionamos o carro fomos recebidos por bichos, primeiramente por pássaros, depois na trilha apareceu desfilando um belo teiú, que fugiu bem na hora da foto. Bruno e eu ficamos para trás fotografando um inseto, estávamos bem concentrados, tirando altas fotos quando apareceu Andréa sussurrando: Paola! Paola! Venha ver. Mais que depressa fomos, era uma corujinha toda graciosa (a caburé)! Simone e eu tiramos altas fotos, enquanto os demais a admiravam. Continuamos a caminhar. Por mais que eu defina o Buraco das Araras me faltam palavras. Simplesmente a natureza é perfeita e nesse lugar ela está bem representada. O problema do meio ambiente é o homem que com sua ambição e egoísmo a ignora e pior: a destrói. Sou meio suspeita a falar porque faço o curso que realmente amo, Biologia é a ciência que estuda a vida e essa possui muitos encantos que me atraem principalmente a vida animal. Todos nós que partimos nessa expedição, somos no mínimo apaixonados pela natureza. Hoje é o terceiro dia de carnaval: festas, bebidas e etc, muitas pessoas preferiram sair para festar e nós fizemos o carnaval foi com a natureza, onde deram um show! O show da vida! Não sou muito boa para descrever meus sentimentos, fico no mínimo maravilhada e não sei muito bem como expressá-los, mas quando saio nessas viagens de campo, quando fico em contato com a natureza, animais, plantas, gestos simples como por exemplo o aparecimento de uma perereca saltitante, uma borboleta batendo majestosas asas das mais diversas cores, o magnífico vôo das aves, o forrageio dos mamíferos, o andar constante e desajeitado das formigas, um estranho e curioso inseto ou simplesmente o  nascer ou por do sol, percebo como é maravilhoso! Chega a ser inexplicável! É como num simples gesto você desse as mãos ao Criador, você e ele de mãos dadas, sentindo a infinita grandeza de Deus e o quanto somos pequenos e grandes ao mesmo tempo, o quanto temos a aprender, a viver, a agradecer. Acho que isso define um pouquinho da emoção que senti e sinto. No meio da caminhada fomos presenteados, vimos no mínimo 18 araras vermelhas, que espetáculo! Ficamos todos “boquiabertos”, além claro, de muitos retratos que tiramos. Ficamos observando e fotografando-as por muito tempo, aliás ate nos esquecemos dele, do tempo. Também com esse espetáculo... Depois de muita observação seguimos. Quanto mais admirava o Buraco das Araras, os seus paredões, sua vegetação, os seus animais, mais eu queria admirar, mais meus olhos não acreditavam naquelas cenas, eu poderia facilmente morar ali, viu. Mais uma foto, dessa vez da equipe e continuamos a trilha, com certeza esse será um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida. E a viagem só estava no começo, muitas coisas maravilhosas nos aguardavam, era apenas a ponta do iceberg.

Nos despedimos dos proprietários e pegamos a estrada. A paisagem fascinante do Pantanal nos preenchia de surpresas maravilhosas mas nem todas foram agradáveis. No percurso que fizemos, desde a saída de Campo Grande até Porto Murtinho, vimos muitos animais atropelados, na maioria tatus seguidos por tamanduás, caracarás, teiús, gambá, num total de 21 espécies, isso tudo por resultado da influência antrópica no habitat deles. Chegamos ao destino do dia: Porto Murtinho, também uma bela cidadezinha onde o Rio Paraguai divide os dois países: Brasil e Paraguai. Nele presenciamos um belo pôr-do-sol , onde em seguida fomos degustar de saborosos sorvetes de onde seguimos para o hotel de transito das forças armadas, onde mais uma vez fomos muito bem recebidos e hospedados. Agora são 1h10min da manhã, todos estão dormindo e eu irei fazer o mesmo.  



Segunda 04 de fevereiro de 2008


Acordamos cedo como de costume para aproveitarmos o máximo o dia. O que não era de costume foi a recepção que tivemos no hotel de transito do exercito. Havia um banquete a nossa espera. Tomamos o café  da manhã felizes da vida, arrumamos novamente as bagagens e saímos para o quartel da 2ª CIA FRON onde acertaríamos os últimos detalhes com o Tenente Hermes. O Tenente e um cabo nos guiaram até a entrada do km 10 onde pegaríamos mais 70km de estrada de chão destino ao Destacamento da Ingazera onde nos hospedaríamos (divisa entre Brasil e Paraguai) e daríamos continuidade a nossa expedição. Não teve um momento no Pantanal em que não fomos recepcionados por bichos. Começamos o dia com uma marreca-cabloca e um cafezinho ou jaçanã, ambos exuberantes. Nos 70km de percurso presenciamos as mais diversas aves de diversas cores e formas tais como: tuiuiú, garça, casaco-de-couro, socó-boi etc. Paramos para registrar um tachã e uma curicaca-real ou curicaca-cinzenta. Desfrutamos bastante. Distraídos seguimos de carro quando mais ou menos 01 km Andréa deu falta do seu melhor binóculo e um protetor solar. Bruno os havia deixado em cima do capô do carro e pensara que Andréa havia pego. Resumindo o protetor e o binóculo haviam caído do carro. Voltamos para procurar e só achamos o protetor. Ficamos todos muito chateados com a situação, pois o binóculo, além de caro era muito importante nas pesquisas de Andréa. Chateados continuamos o percurso, aves e mais aves... lindas! De repente numa das muitas pontes que passamos, avistamos um lindo jacaré! Aves nos acompanharam até a chegada no Destacamento, porém antes de chegarmos ao destino sofremos um pequeno desvio de 10km, pegamos uma das entradas erradas e fomos parar na fazenda de um ex-governador do Estado. Ao chegarmos no Destacamento da Ingazera fizemos as devidas apresentações, reconhecemos o local e fomos almoçar macarrão instantâneo, é, é assim mesmo, um dia almoçamos uma delicia de almoço feito pela mãe da Maristela com direito a sopa paraguaia e tudo e no outro macarrão instantâneo assim é a vida de nós pesquisadores...rs. Fizemos um intervalo e às 13hs embarcamos com o cabo Leon para conhecermos as riquezas e belezas do Rio Apa que é metade do Brasil metade do Paraguai dividindo ambos. Nas primeiras horas de barco enfrentamos um Sol muito forte e avistamos apenas algumas aves, descemos em ilhas e observamos pegadas de veado-mateiro, capivara, ariranha, aves e jacaré. Andamos bastante o rio por ser propriedade de dois países encontra sérios problemas ambientais pois no Brasil há leis que protegem o meio ambiente e no Paraguai as leis não são muito severas e há muita falta de fiscalização agravando o problema. Segundo o cabo Leon, encontra-se muitos pescadores em época de piracema e se estes se sentirem ameaçados vão para a margem Paraguai do rio onde não vão encontrar problemas com fiscais, além da caça que acontece frequentemente. Fizemos uma parada na casa de um Paraguaio que mora em território brasileiro, onde trabalha protegendo as fazendas da região, em sua companhia cachorros, vacas e muita munição (armas). Pude notar que ficou bastante alegre com nossa visita, recebeu-nos bem satisfeito e falante com seu “espanhol-paraguaio”, falou-nos de seus parentes, de sua vida e nos mostrou ate um curriculum seu, isso tudo a base de muito tereré, bebida bastante apreciada na região, composta de erva-mate acompanhada de água gelada. O tereré é tão influente na região que em Porto Murtinho existe até um monumento em sua homenagem. Da casa de Vicente Melito, o paraguaio, retornamos sentido Destacamento, na volta já era mais ou menos 17-17h30min, conseguimos observar mais animais do que na ida. Além das aves, fomos presenteados com a presença de um grupo de macacos-pregos de mais ou menos 8 indivíduos e 1 filhote, para a minha alegria um deles se destacou mais, expondo-se mais que os demais, fazendo caras e bocas e nos observando. Saiu em fotos lindas! Seguimos observando o curso d’água, a vegetação, aves e de repente o cabo Leon nos avisa que viu um bugio. Me empolguei bastante, não só eu, mas principalmente Simone e eu. Aproximamo-nos com o barco... não podia acreditar no que via! Estava ali bem em frente aos meus olhos, em detalhes um belo bugio, o macho é negro, espécie imponente, elegante e majestosa, que eu nunca havia visto. Foi muita emoção! Disparei a fotografar, porque se ele fugisse eu teria pelo menos uma foto. Eu disparava flashes de um lado e Simone de outro, parecíamos crianças com um brinquedo novo. Para nossa felicidade, e que felicidade, ele ficou durante muito tempo se deixando observar, nem aí com a gente, na dele, tranquilão, alimentando-se, também fazendo caras e bocas ate língua ele mostrou. Fotografei até me cansar e o fiquei observando, lentamente ele foi seguindo mata adentro e a gente o nosso percurso, descendo o rio observando mais ilhas e muitos colhereiros, animal que eu nunca tinha visto, por sinal  muito bonito. Para mim a viagem já havia valido a pena só por ter visto aquele belo bugio, como eu estava feliz. Chegamos no Destacamento onde nos preparamos para mais um dia de aventuras.


  
Terça, 05 de fevereiro de 2008

Mais um dia de expedição no rio Apa, desta vez saímos à direita do rio, o rio não era mais o mesmo que havíamos deixado ontem, hoje de manhã estava cheio de neblina e evaporava visivelmente, além de uma espuma na água característica que, segundo Leon, é sinal que o rio enchia. O Sol nascia embaçado entre as nuvens, assim seguimos rumo ao Destacamento da Ilha da República. Uma das coisas que eu gostei bastante foi a hospitalidade e recepção que o pessoal da região nos apresentava, como era bom ver aqueles olhos brilhando, aquela alegria de conhecer pessoas novas, principalmente dos militares que ficam até meses sem ver pessoas diferentes, isolados em seus Destacamentos. Com muita alegria e satisfação fomos recepcionados no Destacamento da Ilha do Apa. Descemos e observamos as características biológicas do local. Além da pausa da “hora do tereré” encontramos muitos mosquitos numa matinha que entramos e aqui no Pantanal até os mosquitos são especiais principalmente os mosquitos conhecidos como cavalos, bem maiores que os comuns, o que era aquilo? Despedimo-nos e partimos para a próxima parada: Ilha da República. Que paisagem. Que visão! De um lado o destacamento e do outro construções paraguaias, como por exemplo uma bela igreja. Mais uma vez fomos muitíssimo bem recebidos. Fomos logo fazer uma trilha onde um dos militares nos contou uma historia que eu achei bem interessante o motivo pelo qual uma das trilhas estava desativada. Segundo o militar um outro militar que serviu durante mais de 20anos no exercito um dia contou ao seu comandante que um barco brasileiro havia sido roubado por um paraguaio, então o comandante ficou preocupado e comunicou o fato aos seus superiores e todos acreditaram que o Paraguai poderia estar querendo entrar em conflito com o Brasil. Um General do exército brasileiro foi pessoalmente ao Destacamento, o General! Colocaram espiões no Paraguai e até no Brasil para ver o que realmente tinha acontecido, e um dia uma comerciante paraguaia que estava com raiva do militar que não pagava sua dívida contou o que realmente havia acontecido. A verdade era que o militar tinha ido para o Paraguai festar, se embriagou, descuidou do barco e o furtaram. Como ele servia há muito tempo não compensava mandá-lo embora. Como punição ele pagaria toda as despesas da operação, inclusive o combustível gasto pelo General. Conversamos mais um pouco e experimentamos a galheta, uma espécie de bisnaga, mais endurecida, comida típica paraguaia. Nos despedimos e seguimos viagem, o que seria nosso último dia no Destacamento da Ingazera. Chegamos no Destacamento e começamos arrumar nossas bagagens para partirmos. Nesse dia Bruno partiria rumo à França, porém uma boa noticia: ele conseguiu adiar a viagem em uma semana para aproveitar mais o Pantanal. Ele não conseguiria ficar só dois dias aqui nesse Paraíso.  Depois do almoço partimos para Porto Murinho. Pela primeira vez aqui no Pantanal, vimos uma enorme serpente e que brilhava bastante, a vi quando estávamos no carro e pedi que Andréa parasse. Ficamos todos muito empolgados. Continuamos a viajem observando martins-pescadores, casaco-de-couro, garças etc. E eis que do nada pula um veado-mateiro! Como era bonito vimos no detalhe. Ele ficou parado do outro lado da pista nos observando, mas na hora que Simone ia fotografá-lo, fugiu. É um veado bem difícil de ser visto, valeu a pena tê-lo visto. Aves e mais aves... Chegamos no hotel de transito em Porto Murtinho onde tomamos banho, mais tarde jantamos e dormimos.


Quarta, 06 de fevereiro de 2008.

Era para acordamos 4h30mim porque sairíamos do Porto do Exercito em horário militar às 6hs. Eu fiquei responsável pelo despertador, só que eu havia me esquecido que meu celular estava no horário de Brasília, consequentemente uma hora adiantado, porem só observei esse detalhe depois que havia acordado todo mundo.Então acordamos às 3h30mim, mas foi ate bom porque tivemos mais tempo, chegamos ate um pouquinho adiantados no Porto. Íamos partir para o Destacamento Barranco Branco, de carona com uns militares e suas mercadorias. Tudo na nossa viajem tem mais detalhes, dessa vez não foi diferente... colocamos nossas bagagens e as mercadorias, compras que iam para Barranco Branco em dois barcos, quando estávamos partindo o piloto nos avisou que o motor do barco estava com problemas e não funcionava muito bem. Os militares ligaram para um supervisor informando o problema e esperamos mais de meia hora para solucionar o problema. A ordem foi para que trocássemos de embarcação. Retiramos todas as bagagens e passamos para um só barco maior e então seguimos nossa equipe juntamente com três militares a esposa e uma filha recém nascida de um deles. Andamos mais ou menos meia hora e o barco pifou! E agora? Pensei. A nossa sorte foi que o celular de um deles ainda funcionava e conseguimos pedir socorro, que demorou mais de uma hora para chegar. Vieram em três barcos e então pela terceira vez trocamos de embarcação. Fomos para o Destacamento em dois barcos, a viajem era para ter ocorrido em duas horas éramos para cegarmos às 8hs e chegamos às 14hs! Mas teve bom! Mais uma aventura para relatarmos. O percurso foi muito bom, víamos um barco ao outro, o quinteto havia se dividido, fomos Bruno, cabo Paulo, cabo Jr. e eu em um barco e o restante em outro. Que lugar lindo! Não me canso de admirar esse Pantanal. Não tem um lugar que não seja interessante. Dessa vez o espetáculo ficou por conta dos lindos morros! Fecho dos Morros! Seguimos sem paradas, a não ser quando eu solicitei comida ao outro barco. Chegamos finalmente ao destino do dia. Uma surpresa para o sargento de Barranco Branco que não havia sido avisado da nossa estadia, contudo nos recebeu muitíssimo bem. Sei que já relatei isso antes, mas mais uma vez fomos muito bem recepcionados. Ate almoço fizeram para a gente, uma delicia por sinal. O sargento Luiz André usou um termo que define muito bem a recepção que recebemos: “ A nossa missão é servir”, isso define tudo. Ficamos muito gratos. Nos acomodamos e planejamos a rota do dia seguinte.


Quinta, 07 de fevereiro de 2008

Hoje o horário planejado para sairmos era por volta das 6hs. Não colocamos despertador porque achamos que o cabo Brito nos acordaria cedo, no entanto perdemos a hora e saímos depois das 7hs. Atrasados saímos, mal sabíamos nós que esse atraso era para nos presentear. Para mim especialmente foi um dos melhores dias. Saímos de barco rio acima e logo vimos ariranhas. Logo em seguida vi um dos meus répteis favoritos: jacaré. Que alegria eu sentia! Um belo martim-pescador deu o ar da graça..continuamos e vendo mais jacarés. Fizemos uma parada em um hotelzinho flutuante onde descemos, e Brito ficou consertando o motor eu não estava me sentindo muito bem, acredito que tive uma queda de pressão. Brito consertava o motor e eu fiquei em repouso ingerindo um pouco de sal enquanto Simone, Maristela, Andréa e Bruno exploravam a região em torno do hotel. Muitos mosquitos, nem assim desanimaram. Simone fotografou um pássaro conhecido popularmente por joão bobo.  Feito o conserto do motor e vistoria da área, continuamos. Esse dia foi realmente maravilhoso, Brito conhecia bastante a região e tinha olhos bons para ver bichos, às vezes despercebidos por nós. Vimos socós-boi, cafezinhos, garça-branca, gavião-preto e tachã, essas são apenas algumas aves que me recordo e mais me chamaram a atenção. Mais jacarés... e Brito enxerga no meio do nada ou melhor no meio de uma imensidão uma diminuta serpente em cima de uma planta aquática, de onde tiramos belas fotos. Seguimos, e numa ilha avistamos capivaras, mas só uma posou para foto. Mais uma vez Simone e eu nos empolgamos mais, os mamíferos nos atraía mais e as aves, Andréa e Maristela. Na árvore em que repousava a capivara estava uma linda iguana. Como era bonita. Tentei por vários ângulos fotografá-la, mas os ângulos não ajudavam, ate subir na árvore eu subi, Bruno também fez o mesmo. Ameaçada se jogou na água, quase caindo dentro do nosso barco. Continuamos... um tempo depois avistei outro grupo de capivaras. Para! Para! Exclamei. La estava uma capivara maior com outras menores. O total era de mais ou menos cinco indivíduos jovens e uma adulta. Para mim o dia já estava ganho, não precisava ver mais nada, a não ser que uma onça-pintada se quisesse dar o ar da graça, acharia ótimo, rs. Não conseguimos chegar em Nabileque, os camalotes haviam fechado o caminho, então voltamos apreciando os corixos. Vimos outra iguana e duas saracuras grandes. O sol estava radiante, e em nossas paradas em ilhas ou vegetações, voltávamos abarrotados de mosquitos:, como eram muitos! Na volta, Brito e Andréa avistaram uma fêmea de bugio e entramos todos menos Maristela na mata atrás desse bugio, mas não conseguimos encontrá-la e não agüentamos ficar muito tempo procurando-a por conta dos mosquitos. Descemos o rio Paraguai, onde suas águas não se misturam. Fizemos mais uma parada no hotelzinho que passamos na ida e seguimos. Logo avistamos Aquidaban, uma embarcação paraguaia com comerciantes que vendem mercadorias para as populações ribeirinhas. Fizemos sinal de que queríamos entrar, mas tínhamos de ser rápidos, para não atrasarmos a embarcação. Lá dentro parecia uma feira livre, eles aceitavam dinheiro em real e nos voltava troco em moeda paraguaia, eu fiquei perdidinha com a linguagem deles, ainda bem que pude contar com o auxilio de Brito. Bruno, Andréa, Simone e Maristela seguiram fazendo compras eu já havia desistido, só tinha nota alta e não me seria útil ficar com moeda paraguaia, então saí pra proa do barco e fiquei observando o pessoal, como eram diferentes das pessoas que convivo, achei muito legal adoro conhecer coisas diferentes. Estava encantada. De repente me veio uma senhora mais uma vez não entendia nada que falava, e mais uma vez Brito me socorreu, ela estava querendo me vender uma espécie de leque, até me interessei mas não comprei. Descemos do Aquidaban e seguimos nosso caminho, tetando avistar novamente as ariranhas. Chegamos em Barranco Branco depois das 15hs. Achei que a cota de bichos do dia já estava esgotada, contudo à noitinha Bruno me mostrou uma bela aranha caranguejeira, ele tirou bastante fotos. Apareceram também muitas pererecas, sapos e morcegos. Assim terminou mais uma noite nesse magnífico lugar.


Sexta,08 de fevereiro de 2008

Acordamos às 6h, o sol estava nascendo. Simone acordou reclamando dor de coluna, mas na verdade quem entrevou foi eu! A coisa ficou feia, nem saí pra campo. Nesse dia o fazendeiro vizinho Varley juntamente com um dos seus filhos e o barqueiro seria Wilson. E eu?? Fiquei tomando remédio e esperando melhoras. O que me animou um pouquinho foi que bem cedinho quando acordei uma linda coruja, a suindara Tito alba chegou muito perto de mim, o que me deixou muito feliz. Depois da partida do pessoal, fui pra internet e fiquei lá por horas, saí e fui arrumar a cozinha, decerto que estava podendo, ao invés de repousar fui arrumar serviço. Na hora do almoço resolvi descansar, não queria fazer comida só pra mim, pensei vou dormir agora e quando acordar faço um macarrão instantâneo, pensei que o pessoal só chegaria à tarde. Assim que deitei na cama o enfermeiro veio conversar comigo, passados alguns minutos chega todo mundo. Fiquei surpresa, e chegaram famintos, então resolvi fazer almoço, coisa que não é muito habitual, eles até admiraram. Até que a comida agradou, fui bem elogiada. Estávamos terminando de almoçar quando a esposa do Brito chegou com uma sobremesa, eita que a gente estava sendo muito bem tratado viu, até a carne pro almoço ganhamos dos militares. Todo tanto que agradecermos o tratamento seria pouco, viu. Essa tarde passaríamos com tempo livre para arrumarmos nossas coisas e descansarmos um pouco. As três dormiram e eu passei a tarde na internet, o sol veio com força total, porém não ventava e nem havia muitos mosquitos. Horas depois nos mulheres fomos cuidar dos diários e Bruno de seus desenhos, a parte artística. Às 18h um militar recolhe a bandeira nacional, na sacada onde estava fiquei admirando a sena um ato simples mas muito bonito um homem fardado militar recolhendo a bandeira do Brasil e de fundo um belíssimo rio, o Paraguai, adorei aquele momento. Passei horas observando a visão que tinha do Destacamento, queria memorizar cada detalhe, não acreditava que estava nesses locais maravilhosos estava realizando um sonho, queria decorar tudo! Como a natureza é perfeita. No finalzinho da tarde veio descendo uma enorme embarcação, enorme mesmo! Mais de cem metros, onde transportava minerais. O final de tarde foi muito tranquilo, fresco e bonito. Amanhã saíremos a cavalo, Felipe, o filho mais novo de Varley chegou num cavalo e quisemos dar uma aquecida para não fazer feio no dia seguinte. Andréa e eu éramos marinheiras de primeira viajem, primeiro andou Bruno, depois Andréa e Felipe e por último eu. Na minha vez já estava insuportável de mosquitos. Todos nós saímos correndo para nos protegermos. Mais tarde fomos jantar, jantamos e não aguentamos ficar muito tempo fora dos nossos quartos, pois os mosquitos estavam demais, isso para nós mulheres, os homens são mesmo coro grosso ficaram lá com os mosquitos. Fomos dormir e deixamos eles lá fora.


Sábado,09 de fevereiro de 2008.

Acordamos bem cedo como de costume, o Sol nem havia nascido. Hoje sairíamos a cavalo. Logo vimos Varley e seus filhos juntando e arrumando os cavalos. Partimos cada um em um cavalo, exceto Andréa que foi de garupa com Bruno e Felipe com seu pai. Antes eu tinha um certo receio de andar a cavalo, achava um belo animal mas tinha receio, porém isso foi por água abaixo depois que andei a cavalo ontem. Hoje estava super empolgada para cavalgar e sozinha. Seguimos nossa cavalgada observando aves, uma em especial me chamou mais a atenção: um belo pica-pau-de-cabeça-vermelha, o seu barulho ao perfurar os troncos de arvores é bem chamativo. Vimos muitas pegadas de mamíferos eu estava tão me achando com o pouvorinho, cavalo que me arrumaram que do nada resolvi mudar a rota da  trilha e todos me acompanharam, foi bom porque Simone logo viu muitas pegadas de cateto e queixada. Mais aves... pegadas de mão pelada, veado-catingueiro e tamanduá-bandeira. Terminamos a cavalgada e fomos para a sede da fazenda de Seu Varley. Ficamos por muito tempo conversando, a caseira nos mostrou uma serpente de mais de um metro que estava no porão. Fomos convidados para almoçar e aceitamos. Que almoço! Delicioso! Almoçamos uma das típicas comidas pantaneiras arroz carreteiro. Andréa não aguentou muito o batidão e acabou cochilando ali mesmo sentada, seu Varley convidou-a para dormir na rede e ela aceitou. Depois do almoço ficamos conversando por mais de meia hora, mas já estávamos todos muito cansados, Andréa voltou a dormir na rede, Bruno cochilou sentado mesmo e Simone, Maristela e eu resolvemos voltar para o Destacamento. Eu já estava no meu limite do meu limite de sono não estava dormindo muito bem nos outros dias e acumulei sono. Cheguei, peguei meu colchão e joguei bem no corredor o quarto estava quente, e não estava nem aí para quem passasse no corredor e me visse esticada lá. Desmaiei. Alguns militares estavam fazendo um churrasco e nos convidaram, mas eu não tinha condições, precisava dormir. Acordei já passava das 14h, Simone também acabava de acordar, Maristela passou bordando e Bruno no galpão desenhando. E Andréa? Cadê? Ainda estava dormindo na fazenda de seu Varley, dá para acreditar? Rs Apareceu no destacamento depois das 15hs. Passei a tarde admirando a visão que tinha do rio Paraguai , não me canso de admirá-lo e cada minuto que passa sinto uma enorme saudade. Às 18hs a bandeira foi novamente recolhida lentamente e de fundo uma paisagem exuberante! Depois saímos de barco para tentarmos avistar novamente ariranhas, mas não obtivemos sucesso, nada delas. Quando anoiteceu tivemos uma surpresa: chuva! Só faltava ela para encerrar o dia. Agora estou aqui na minha cama escrevendo meu diário e um sentimento toma conta de mim: não sei bem, é uma mistura de saudade e até um pouco de tristeza em pensar que hoje é a nossa última noite no Destacamento do Barranco Branco um lugar maravilhoso e pessoas mais maravilhosas ainda. Mas é assim mesmo, nossa vida é feita de momentos únicos e esse com certeza é um deles. Obrigada belo Pantanal por mais uma noite, Obrigada Deus por existir esse paraíso, Obrigada Andréa, Simone, Maristela e Bruno por poderem ter  desfrutado tudo isso comigo.


Domingo,10 de fevereiro de 2008.

Hoje foi nosso ultimo dia em Barranco Branco. Mais uma vez acordamos primeiro que o Sol, na noite anterior choveu muito, e essa manhã ainda estava nublada e bastante molhada. E assim mesmo cumprimos com o planejado, saímos para caminhar aonde fomos a cavalo para aproveitarmos mais antes de irmos embora para Porto Murtinho. O caminhada viu! Estava muito alagado e muitíssimos mosquitos no caminho nos acompanhavam a todo momento! Logo dei uma boa atolada, oiai. Mas antes de mim Maristela já havia levado um belo escorregão, porem a campeã em atolar foi Andréa. Os mosquitos não davam um só minuto de trégua, estavam literalmente demais. Andréa é alérgica a mosquitos resistiu ate a metade do caminho, não agüentando mais o ataque e os atoleiros resolveu voltar. O resto da equipe continuou bravamente, mas confesso que teve um momento que quase voltei com Andréa. Me superei não foi um percurso fácil. Estávamos terminado a caminhada quando do nada e bem encharcada aparece a filha de Brito, ela estava com a calça molhada acima do joelho de meias e sem sapatos. Fiquei admirando-a , a resistência que o povo pantaneiro possui, nossa equipe só saía a campo depois de uma enorme preparação: protetor solar, sapatos impermeáveis, gandolas e  muito repelente. Andréa saía até com um véu cobrindo o rosto. Eu havia passado tanto repelente que minha pele estava queimando. E ela lá, do jeito que a descrevi e com um sorriso estampado no rosto. Cenas marcantes do Pantanal. Não demorou muito e apareceram Brito e sua esposa. Chegamos no destacamento e fomos arrumar nossas coisas sairíamos depois do almoço. As minhas coisas já estavam arrumadas, cheguei da caminhada louca por um banho! Estava toda enlamaçada  e com muito repelente. Como minhas coisas já estavam arrumadas, fiquei com mais tempo, queria aproveitar cada segundo. Sabia que sentiria uma enorme saudade. Tirei muitas fotos e admirei bastante esse lugar e as pessoas. Que lugar bonito! Que pessoas receptivas! Que felicidade. Que saudade eu sentiria. As meninas estavam arrumando as malas e Bruno jogando xadrez com Anderson o militar que veio mas a esposa e  a filha com a gente na embarcação. Felipe brincava ao nosso redor, e o nosso inseparável macarrão instantâneo cozinhava. Quando o macarrão ficou pronto a embarcação chegou. Foi uma grande movimentação pessoas chegando e saindo, foi quase uma festa. Descemos nossas malas próximas aos barcos, sairíamos em dois. E mais fotos. Chegada a hora da partida nos despedimos de todos e embarcamos, em um barco foi a nossa equipe os biólogos, Rodrigo, Felipe e os cabos Wilson e Paulo, no outro embarcou o sargento sua família e os demais militares, partimos. O Sol estava de rachar! Que calor! Viajamos apreensivos com o tempo. Na parte da manha estava uma polêica se haveria ou não embarcação por conta do tempo que estava carregado. Depois do enorme calor que passamos, começamos a encontrar com nuvens carregadas e eles ia cada vez mais se aproximado. Cabo Paulo me entregou uma capa de chuva onde abrigou Felipe e eu que estávamos mais ao fundo do barco. Achei que estava muito chique, rs. Mas chique mesmo foi a água que caiu, quanta água! Parecia ate um dilúvio. Mas tenho a impressão que todas as situações que vivíamos, aconteciam para acrescentar a nossa viagem, as nossas historias, porque mais complicada que parecia sempre saíamos bem. Tivemos muita sorte, assim que a água caiu com força total avistamos um abrigo. Só pode ter sido Deus. Foi uma correria só. Corremos para nos proteger e os militares cuidaram dos barcos e das bagagens debaixo de muita água. A chuva era muito forte e com vento. Esperamos por mais de 20mim e a chuva deu uma trégua e seguimos viagem, todos encharcados. Todos passaram frio. E as malas? Encharcadas... a minha mais. Desse momento em diante não viajei bem seria porque estava com muito frio e preocupada com a mala encharcada. Maristela e Bruno gentilmente me cederam blusa de frio. Demoramos mais de uma hora para chegarmos. Nosso barco chegou por ultimo. Colocamos a metade das bagagens no carro e deixamos a outra metade no quartel e fomos em busca de um lugar para passarmos a noite, no outro dia cedo teríamos uma reunião na prefeitura para falarmos da expedição. Chegamos na casa do tio da Maristela para fazermos uma visita. Conversamos bastantes, um casal de senhores muitíssimo simpáticos e acolhedores. Sem graça de pedirmos pouso, resolvemos ir embora, e então eles mesmo nos convidaram para pousar, e nós ainda fizemos um charminho, mas aceitamos. Pegamos o resto da bagagem e nos acomodamos. Já era tarde e resolvemos jantar. Pedimos uma pizza, jantamos e fomos fazer uma seleção de fotos. Espalhamos todas as roupas molhadas para secar e fomos dormir.
 
 





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